Grupo Ruas e Praças: uma história que constrói sonhos e resgata cidadania completa 30 anos

Um dia para guardar na memória e no coração. É dessa forma que o seminário celebrativo dos 30 anos do Grupo Ruas e Praças pode ser definido. Quem compareceu ao evento, realizado na última terça-feira (29), no Teatro do Brum, no Centro de Convenções, em Olinda (PE), voltou para casa, no mínimo, provocado/a e motivado/a a continuar essa história de defesa da vida.Repleto de resgates históricos sobre a luta pelos direitos das crianças e adolescentes, com discussões atuais a partir dos desafios colocados no atual cenário sociopolítico, mas também cheio de depoimentos emocionantes.

Com o tema “A Sociedade Civil na efetivação do Sistema de Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes”, o seminário reuniu militantes dos direitos da criança e do adolescente, gestores/as públicos, parceiros/as e estudantes. Durante a abertura do evento, a coordenadora-geral do Grupo Ruas e Praças, Solange Silva, falou sobre a emoção de ver a instituição chegar aos 30 anos. “Para nós, essa celebração é resultado de um trabalho que é realizado há mais de três décadas, feito com compromisso diário. É uma honra compartilhar esse momento com vocês, pois falaremos de uma trajetória que modificou a vida de muitas pessoas, inclusive a minha, fazendo a mulher e a educadora que eu sou hoje”, declarou.

A partir de uma perspectiva histórica, a primeira mesa do seminário discutiu o papel do Grupo Ruas e Praças no contexto da criança e do adolescente na cidade do Recife e na Região Metropolitana. Mediada pela educadora de saúde, Simone Costa, a discussão reuniu nomes como Helena Janssen e Maria de Loudes, ambas do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR); Marcos Silva, do Galpão dos Meninos e Meninas de Santo Amaro; Ana Farias, do Conselho Municipal de Defesa e Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente do Recife (Comdica); além do militante de direitos humanos, Itamar Júnior.

Helena Janssen que, junto com o marido Adriano Janssen, testemunhou o início de toda essa trajetória institucional na luta pela vida.

“O Grupo Ruas e Praças nasceu da necessidade de ter educadores/as nas ruas durante o dia, porque é durante esse período que surgem os conflitos. Precisávamos de homens e mulheres que estivessem dispostos/as a fazerem das praças públicas lugares de aprendizagem. Nossa função é lutar para que haja vida em abundância e é por isso que, nesse cenário atual, precisamos unir nossas forças para continuar a defender os direitos das crianças e dos adolescentes”, explicou Helena Janssen que, junto com o marido Adrianus Janssen, testemunhou o início de toda essa trajetória institucional na luta pela vida.

A abordagem pedagógica do Grupo Ruas e Praças, por sua vez, foi abordada por Maria de Lourdes, conhecida também como Dudui. “No início da instituição, percebemos que os aspectos culturais e políticos eram determinantes para que uma criança ou um adolescente fossem para as ruas. A partir disso, a escuta tornou-se uma metodologia para o trabalho que realizamos, porque é por meio dela que é possível conhecer o contexto familiar. O Sítio Capim de Cheiro surgiu dessa escuta. Eles desejavam um lugar para fugir da cola, que, naquela época, era o tipo de droga mais comum entre eles/as”, relembrou.

A abordagem pedagógica do Grupo Ruas e Praças foi abordada por Maria de Lourdes, conhecida também como Dudui.

Se escutar os depoimentos, acima, foi fundamental para conhecer a caminhada trilhada ao longo desses 30 anos, ouvir de rapazes e moças sobre o papel que o Grupo Ruas e Praças assumiu na vida de cada um deles, levou muitas pessoas às lágrimas. Ao longo das falas, além dos aprendizados, que foram pontuados por todos os jovens que participaram da mesa, a gratidão que cada menino e cada menina, hoje adultos, têm pelos/as educadores/as,ganhou um destaque especial.

“Conheci o Grupo Ruas e Praças quando eu tinha 11 anos e morava na Rua da Aurora com os meus pais. Lá, eu aprendi todo tipo de dança cultural e também sobre os direitos da criança e do adolescente. Aos 13, meu pai vendeu tudo o que nós tínhamos, inclusive as minhas roupas. Foi então que eu pedi ajuda à instituição. Durante esse período, morei no Centro Educacional Vida Nova (CEVN), no Sítio Capim de Cheiro, em Caaporã (PB) (chorou ao relembrar). Hoje, aos 32, sou casada, tenho dois filhos, moro numa casa própria, consegui montar um espaço para vender lanches. Graças a Deus, posso dizer que a minha vida foi transformada”, contou Cleonice Gonçalves.

Mesa com jovens que foram educandos e educandas do Grupo Ruas e Praças

Outro depoimento que marcou a mesa foi o da jovem Wenny Misael. De acordo com ela, o que era, no início, um lugar que tinha uma comida gostosa tronou-se, pouco depois, um espaço de transformação pessoal. “Conheci a instituição em 2014 e confesso que o Grupo Ruas e Praças me conquistou pela barriga (risos), mas foi só uma questão de tempo para que os/as educadores/as tivessem uma importância enorme na minha vida. Durante a tarde, eu participava dos cursos e, à noite, ficava também para a vivência noturna, onde são realizadas ações nas ruas. Hoje, junto com o Pedro Gomes, que também foi educando, temos uma produtora de vídeo, formada a partir do nosso próprio trabalho. Só posso dizer que tudo o que eu aprendi lá é base para que eu persista e não desanime com as dificuldades de cada dia”, destacou.

A terceira mesa, mediada por Itamar Júnior, discutiu a sociedade civil e os desafios na efetivação do Sistema de Garantia de Direitos no contexto atual. O debate contou com a presença do professor Humberto Miranda, da Escola de Conselhos; de Ricardo Oliveira, do Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social (Cendhec); de Romero Silva, do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop) e do educador social do Grupo Ruas e Praças, Tonho das Olindas.

Construindo sonhos, resgatando cidadania.

“Com 30 anos de história, os resultados do Grupo Ruas e Praças já são tão grandes que poderíamos dizer que a missão à qual nos propomos a lutar no início, nós cumprimos com sucesso. Poderíamos, mas não iremos fazer isso, porque, todos os dias, crianças e adolescentes batem naquele portão buscando atenção, ajuda, orientação e cuidado. Eles precisam do trabalho que realizamos por meio da educação social de rua. Só que nós vamos além e conseguimos alcançar, também, as famílias”, afirmou Tonho.
Ao final das discussões, as crianças e os adolescentes, que participam da oficina de Capoeira da Angola,realizaram uma apresentação para público. Em seguida, foram feitas homenagens às pessoas que marcaram, de forma especial, a caminhada da instituição ao longo desses 30 anos.

Por Lidiane Santos | Comunicadora do Grupo Ruas e Praças.

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